Felizmente, a maioria dos sistemas educativos se encontram em um momento no qual existe consciência da necessidade de introduzir mudanças nos processos de ensino e aprendizagem. A implementação de inovações é, portanto, um fenômeno frequente em muitas instituições escolares. No entanto, não é suficiente para que as mudanças que foram introduzidas gerem uma melhoria relevante e contínuana qualidade da educação. Essa breve reflexão apresenta dez condições que consideramos necessárias para conseguir essa meta.

1. Apropriar-se do sentido da inovação.

Só é possível esperar que as pessoas façam um esforço quando compreendem e compartilham o objetivo do processo de inovação; quando podem se apropriar da meta. Em algumas ocasiões ocorrem processos muito interessantes cuja finalidade e natureza estão claras para os líderes, mas não para os demais. É um mau começo. O tempo empregado em explicar o motivo da mudança permite estabelecer uma base sólida que dará sustento ao esforço que uma inovação traz e guiará o processo durante o seu desenvolvimento. Portanto, se trata de uma condição necessária que, não obstante, não tem que estar dada. Construir o sentido do projeto é uma tarefa em si que deve ser planejada e executada por quem o promove.

2. A escola como unidade de inovação.

A qualidade de uma instituição escolar depende mais da coerência da equipe docente que do desempenho de cada professor. Um bom centro escolar é aquele que possui um projeto comum que harmoniza a forma de ensinar de todos os professores. Devemos buscar a coerência em vez da homogeneidade, que em si mesma não possui qualquer valor. Portanto, as mudanças também devem ser feitas com a perspectiva do conjunto da instituição. A inovação feita por um docente é muito valiosa, mas não produzirá uma melhoria qualitativa no centro educativo a menos que inicie uma transformação generalizada. O mais importante é dinamizar inovações que envolvam o conjunto dos docentes, que compartilham a mesma prática educativa (um curso, um ciclo, um departamento, um determinado programa, etc.). Nem todos terão o mesmo ponto de partida nem o mesmo nível de compromisso, mas todos deveriam participar do processo desde o princípio. Isso significa garantir tempo de trabalho em conjunto e pessoas que liderem esses espaços de reflexão.

3. Compreender os fundamentos teóricos da inovação.

Os docentes devem entender os mecanismos que explicam por que a nova forma de agir que lhes foi proposta vai permitir que os alunos e as alunas aprendam melhor. Em muitos casos, adota-se uma mudança que o professor executa sem uma compreensão mais aprofundada e com todos os riscos que isso traz. O aprendizado cooperativo pode servir de exemplo. Sabemos que duas cabeças pensam melhor que uma, desde que existam algumas condições que não são muito simples. A cooperação funciona porque significa que o aluno deve explicitar seu pensamento para poder explicá-lo aos demais, o que ajuda a tomar consciência das suas ideias. Deve argumentar a sua posição e contrastá-la com outras que são propostas pelo resto do grupo; os colegas estão no mesmo processo de aprendizado e quando explicam o que não entendem, fazem isso de uma maneira mais próxima à que os professores costumam usar. Isso faz com que muitas vezes sejam melhor entendidos. Por outro lado, é mais fácil discutir uma ideia com um colega já que acredita-se que o professor tem razão e esse princípio de autoridade faz com que o estudante seja menos participativo. É necessário estabelecer uma interdependência que faça que o sucesso de um membro do grupo dependa dos demais também conseguirem. Esses e outros mecanismos explicam por que as metodologias cooperativas têm maior probabilidade de promover um aprendizado significativo. Não tem mágica.Mas se o professor não domina todas essas variáveis, colocar todos os alunos para trabalharem juntos não garante a melhoria por si só. Se um dos membros do grupo, mesmo que com a melhor das intenções, toma todas as decisões e responde todas as perguntas, o resto não aprenderá mais do que se fizesse a tarefa individualmente. Quando o professor compreende esses processos, pode regulá-los deliberadamente.

Classroom (misskprimary / Flickr)

4. Promover um processo de reflexão sobre a ação

As mudanças profundas e não meramente cosméticas são lentas, complexas e se originam da ação. Não se trata de explicar aos docentes o que devem fazer e exigir que isso seja aplicado. Não é essa a relação entre as nossas concepções e as nossas ações. É importante partir da prática, introduzir mudanças e no caminho refletir sobre o que está acontecendo: identificar todos os aspectos relevantes; procurar entender a que se devem; planejar os passos seguintes; tomar consciência das nossas resistências e das condições externas que nos faltam… Refletir a respeito da ação, ou seja, analisar a prática, modificará de maneira lenta e progressiva a forma de entender o que é ensinar e o que é aprender. Dinamizar inovações implica em entender a prática dos docentes como o ingrediente fundamental da mudança. É ingênuo pretender instaurar novas formas de agir que não envolvam a atividade anterior do professor para transformá-la. Também seria simplório acreditar que a mera modificação da prática, sem reflexão, permite uma melhoria autônoma e duradoura. A reflexão sobre a ação se revela então como o mecanismo fundamental para a mudança.

5. Contar com a colaboração de especialistas

Os atores da mudança são os docentes, mas precisam de apoio para realizá-la. Não é fácil que a reflexão que acabamos de mencionar tenha um resultado enriquecedor se ocorre somente entre os professores. Ao trabalhar em equipe sem novos recursos corre-se o risco de provocar um processo pouco estimulante que gera desânimo. É necessária a ajuda de pessoas mais especializadas, no entanto, esse apoio será de maior valor na medida em que o acompanhamento se estenda ao longo de todo o processo. Portanto, a ênfase não pode estar em oferecer cursos ou outros procedimentos para dar informação, mas sim em contar com profissionais que ajudem a definir o sentido da meta, criem um compromisso de grupo, contribuam para analisar a prática, planejar as mudanças, sugerir recursos, respeitar a diversidade de ritmos e estilos dos distintos professores, avaliar e alinhar o processo com a participação de todos os implicados. Em última instância, que não sejam pessoas especializadas apenas em um conteúdo específico de inovação, mas principalmente em como gerenciar as mudanças.

6. Prestar atenção aos elementos emocionais

A inovação na educação não implica apenas em mudar as ideias e as práticas. Também envolve gerenciar a ansiedade trazida pelo enfrentamento da incerteza, o desgaste do trabalho em equipe e o cansaço do esforço continuado.

Os docentes devem ser conscientes de que esses ingredientes são parte do processo e terão que antecipá-los para contar com eles no decorrer das mudanças. Os especialistas, por sua vez, também devem saber como oferecer apoio nessa dimensão da inovação.

7. As inovações devem estar incluídas no currículo

Outra das debilidades que são observadas nas inovações atuais é que muitas delas são planejadas à margem do currículo, em espaços e tempos alheios às atividades de classe. O currículo estrutura o aprendizado dos alunos e a atividade docente. O que não modificar o currículo tem pouca probabilidade de produzir melhorias na qualidade do ensino. Não tem muito sentido organizar programas de habilidades sociais ou de inteligência emocional em um horário específico, fora das matérias, e não modificar a forma em que todos os docentes promovem relações interpessoais positivas quando ministram as suas respectivas disciplinas. Não parece muito lógico propor espaços de debate para ensinar os alunos a argumentarem e usar metodologias pouco interativas que não permitem a participação ativa dos alunos durante as aulas. Qual o propósito de explicar aos docentes a importância do enfoque de mindfulnesspara trabalhar a atenção plena, quando a organização do horário escolar e das atividades em classe não permitem o clima de serenidade que é imprescindível para aprender? As inovações não deveriam estar situadas à margem das atividades escolares, mas sim no cerne do ensino curricular, e é importante evitar que se limitem a um tema ou período do curso sem afetar o resto do programa. Não se trata de fazer esporadicamente uma atividade nova. O objetivo é transformar, ainda que seja por meio de mudanças menos vistosas, os afazeres cotidianos da classe e da escola.

8. Incluir mudanças na avaliação

Avaliar é a parte mais difícil da tarefa docente. É muito frequente os professores serem capazes de melhorar a metodologia, mas seguirem utilizando procedimentos de avaliação incoerentes com as mudanças que foram introduzidas. Se preparamos atividades que permitem diversos graus de aprendizado para atender à diversidade dos alunos, não tem muito sentido utilizar provas de avaliação que só podem ser resolvidas a partir de um determinado nível de conhecimento. Se queremos favorecer o desenvolvimento da competência de aprender a aprender, além de trabalhar por projetos que favorecem a autonomia dos alunos, deveríamos incluir a autoavaliação e a coavaliação para que tomem consciência de quando e quanto cada um aprende e, sobretudo, daquilo que mais ajuda a aprender. As inovações que ficam de fora da avaliação perdem grande parte de seu potencial.

9. Planejar a generalização e continuidade da inovação

Às vezes concentramos todo o esforço da inovação no desenvolvimento das mudanças planejadas, mas o desafio não se reduz a isso, já que, conforme apontamos no segundo ponto, a meta é consolidar as transformações para que impregnem o centro educativo com um novo estilo de ensino que se mantenha com o passar do tempo. Portanto, devemos planejar a sustentabilidade das mudanças. Isso implica utilizar estratégias de “contágio”, nas quais os colegas que já progrediram sejam o recurso fundamental. Isso significa avaliar e documentar o processo para sistematizar e socializar o que foi aprendido, difundir as conquistas, medir o esforço que está sendo pedido e verificar se os meios e as condições que se tem são razoáveis. As inovações requerem um impulso constante, que claramente não deve ser confundido com uma mudança incessante que impeça a consolidação antes de passar para uma nova tarefa.

10. Contar com uma liderança transformadora

Tudo o que foi mencionado anteriormente é impossível se a instituição escolar não exercer uma forte liderança vinculada inequivocamente à diretoria, mas que não pode se limitar a esses responsáveis. Todas as figuras que coordenam as tarefas acadêmicas (diretor de departamento, coordenador de ciclo, coordenador de programas específicos, etc.) são peças fundamentais para incentivar as mudanças. Assim como determinados docentes que, por mais que não tenham nenhuma dessas responsabilidades, mostram uma clara tendência à inovação. A diretoria tem grande participação no sucesso da inovação quando estabelece quem vai realizar as tarefas de dinamização e como vai garantir as condições para que sejam realizadas. Por outra parte, é essencial levar em conta a diversidade do corpo docente. Uma das grandes habilidades dos líderes é consolidar projetos comuns sem desperdiçar nem reprimir o valor da forma peculiar de ensinar de cada professor ou professora. Os docentes não devem se sentir avassalados pelas mudanças. (Marchesi, A. 2007. Sobre o bem-estar dos docentes. Competências, emoções e valores. Madrid: Alianza).


Elena Martín Ortega é catedrática de Psicologia Evolutiva e da Educação da Universidade Autônoma de Madri. Diretora do Mestrado oficial em Psicologia da Educação da UAM. Subdiretora e diretora geral do Ministério de Educação e Ciência da Espanha (1992-1996). Consultora da OEI.