Primeiros anos de vida são base para novas aprendizagens

13 dezembro 2018

Por Marina Lopes.

Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento de uma criança. De acordo com pesquisas científicas, o período de 0 a 3 anos é tão decisivo para a estruturação física, intelectual e emocional que gera impacto ao longo de toda a vida. Com um desenvolvimento integral saudável, as crianças têm maior facilidade para se adaptarem a diferentes ambientes e adquirirem novos conhecimentos.

“A primeira infância é a base para tudo o que vai ser construído posteriormente. Se não estiver bem alicerçada, essa estrutura terá rupturas que vão ocasionar problemas na aprendizagem”, explica a especialista em neuroaprendizagem Ana Lúcia Hennemann, professora convidada da CENSUPEG – Centro Sul-Brasileiro de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação e acadêmica na UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. De acordo com ela, nessa etapa a criança deve receber diferentes estímulos, como o brincar, a manipulação de objetos com diferentes texturas e cores, a discriminação auditiva e as interações sociais.

Por ser um período sensível, em que o cérebro das crianças tem uma grande plasticidade para se remodelar em função das experiências, nos primeiros anos de vida há uma maior predisposição para a aprendizagem que pode ser notada no desempenho escolar em etapas posteriores. No Brasil, um estudo conduzido pela Fundação Carlos Chagas mostrou que as crianças que tiveram acesso a uma educação infantil de boa qualidade apresentavam um desempenho 12% melhor na Provinha Brasil, avaliação aplicada aos alunos matriculados no 2° ano do ensino fundamental da rede pública.

Mesmo diante das evidências científicas que apontam a importância desta etapa, uma pesquisa feita pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal mostrou que, para os brasileiros, até os três anos os fatores mais importantes para o desenvolvimento da criança são levá-la ao pediatra (51%), amamentá-la (45%) e ter cuidado com a alimentação (31%). No entanto, os especialistas afirmam que outros fatores devem ser considerados, como afeto, emoção, linguagem, cognição, sono e ludicidade.

“Em primeiro lugar, a criança precisa ter um ambiente saudável e propício para aprendizagem” destaca Ana Lúcia. A especialista em neuroaprendizagem diz que um ambiente de brigas, por exemplo, pode gerar ansiedade, stress e até mesmo desconfiança das pessoas. Nesse sentido, a escola assume um papel fundamental de oferecer espaços alternativos para que as crianças recebam estímulos positivos, entre eles o afeto, que motiva a aprendizagem. “Ele estimula o sistema de recompensas, que libera dopamina. A criança que não tem acesso a isso, não tem a sensação de prazer que as demais têm para a aprendizagem.”

No livro Sucesso escolar nos meios populares: as razões do improvável, o sociólogo francês Bernard Lahire também demonstra a importância de diferentes estímulos para a aprendizagem. “Ele identifica famílias que tinham tudo para não dar certo na aprendizagem e mesmo assim obtém êxito. Elas se destacam na forma como brincam com a criança, na organização de momentos de leitura. Isso mostra a interação entre a família. De certa forma, essa relação familiar sadia é essencial para uma melhora significativa da criança”, indica a professora da CENSUPEG.


Publicado originalmente em Porvir.