Como utilizar movimento em sala (sem interromper a aula)

26 novembro 2017

Você se lembra da última vez que ficou sentado no trabalho ou teve reuniões o dia inteiro? Provavelmente ao acordar de manhã e pensar na quantidade de tempo que você vai ficar sentado ou escutando a fala de outras pessoas, levantando apenas para ir ao banheiro ou comer, você deve ter se sentido incomodado.

Mesmo sabendo que ninguém gosta quando isso acontece, mesmo que seja só de vez em quando, submetemos nossos alunos a essa situação diariamente. Em vez disso, por que não se levantar e se mexer?

Por que funciona usar o movimento em aula?

Existem muitas pesquisas que analisam os efeitos benéficos do movimento em sala de aula. De fato, John Ratey, autor de O cérebro – Um guia para o usuário, assim como o artigo da Edutopia, Move Your Body, Grow Your Brain, de Donna Wilson, enumeram alguns dos muitos benefícios do movimento.Os quais incluem: “aumento do oxigênio no cérebro, alterações dos neurotransmissores e mudanças estruturais no sistema nervoso central”.Todos eles contribuem para melhorar o desempenho da memória, atenção, assim como do comportamento em classe.

Em um estudo publicado pela Escola de Educação John Hopkins, Anne Gilbert Green analisou 250 crianças do ensino primário (Fundamental I) e ensinou a matéria de Língua por meio de movimentos e métodos cinestésicos durante 20 semanas. Depois desse período, os alunos que participaram dessa experiência obtiveram uma pontuação 13% mais alta nas provas curriculares de sua região, enquanto a média do distrito caiu 2%.

Mesmo que a maioria de nós esteja acostumada a ficar sentada durante várias horas por dia, na verdade, é uma prática relativamente nova. Durante os milhares de anos de existência humana, apenas as últimas gerações utilizaram cadeiras. Segundo Eric Jensen, em seu artigo Moving with the Brain in Mind, ficar sentado na cadeira durante muito tempo pode levar a uma má respiração, à tensão da coluna vertebral e dos nervos da parte baixa das costas, assim como a uma visão ruim e ao cansaço geral”. De fato, também aponta que: “Se ficar sentado na cadeira por mais que um período curto (10 minutos) é provável que tenha efeitos negativos sobre o ser físico e mental, reduzindo a consciência física e emocional”.

Como podemos esperar que os alunos tenham um bom rendimento quando passam a maior parte de um dia de 7 horas sentados no lugar?

O problema vem do fato de que incorporamos cada vez mais conteúdo no currículo em um período de tempo mais curto. Parece que não existe tempo suficiente em um dia para ensinar o que é esperado, muito menos para incorporar interrupções. A boa notícia é que existe uma maneira autêntica de introduzir o movimento em classe sem interromper as aulas. Na verdade, uma vez que essas técnicas são introduzidas, pode ser que você perceba que está avançando no material de forma mais rápida e eficiente que nunca.

Preparados? Todos prontos? ESPERA UM POUQUINHO!

Antes de introduzir o movimento na aula, devemos trabalhar um pouco para preparar os alunos. Do contrário, passaremos a maior parte da aula tentando recuperar a atenção dos alunos.

Seis passos a seguir antes de envolver os estudantes no movimento:

  • Encontre uma forma de recuperar o controle. É melhor ter uma forma combinada com eles para retomar a tarefa se de repente a aula ficar barulhenta demais. É bom ter um momento de descontração, mas é necessário saber controlá-los rapidamente. Isso pode ser simplesmente bater palmas ou levantar a mão.
  • Revisar as regras. É importante explicar as regras do movimento antes de começar. Quando os alunos já estão de pé e se mexendo é tarde demais.
  • Revisar o procedimento. Além de revisar o que é esperado, os alunos devem saber todo o processo antes de começar. Isso minimizará o nervosismo dos estudantes. Além disso, dá um objetivo para trabalhar durante todo o exercício.
  • Antecipar os mal-entendidos e solucioná-los. Antes de começar, procure explicar o exercício a outra professora, um amigo ou colega. Isso vai dar uma ideia mais centrada de tudo o que poderia estar faltando na sua explicação. A falta de informação pode ser confusa para os estudantes e a compreensão total é crucial para que a atividade funcione.
  • Estar preparado para modelar o movimento com os alunos. Às vezes, eles precisam de um empurrãozinho antes de estarem prontos para começar. Isso, geralmente, significa fazer um modelo da lição ou repassá-la com eles. Preparem-se!
  • Diferenciar a tarefa para estudantes com limitação de mobilidade. É importante lembrar disso. Às vezes, esquecemos!

Movimento na aula

Então, agora que você já está convencido, como aplicar este tipo de atividades de maneira real? Para começar, a utilização do movimento deveria ser mais fluida dentro do currículo, não algo que se aplica em aulas especiais. Para ajudar, apresentamos algumas sugestões a seguir:

1. Primeiros passos

  • Correr, trabalhar em dupla e compartilhar, no lugarda estratégia utilizada no aprendizado cooperativo, chamada Pensar, trabalhar em dupla e compartilhar (Think, pair, share). Nessa estratégia, o professor propõe um problema. A seguir, os alunos têm que pensar individualmente e depois trabalhar em duplas para resolver o problema ou pergunta. Por último, compartilham as ideias com toda a classe. Na variação Correr, trabalhar em dupla e compartilhar, o professor propõe uma pergunta, problema ou desafio e os alunos precisam se mexer ou correr em classe, depois trabalhar em duplas para resolver o problema ou a pergunta e por último compartilhar as ideias com toda a classe.
  • Resumindo com um barbante. Faça os alunos enrolarem um barbante em volta do dedo enquanto fazem um resumo do que foi aprendido. Quando a corda estiver enrolada significa que o turno terminou.
  • Bola de neve. Peça para os alunos escreverem algumas perguntas em um pedaço de papel. Depois, devem amassá-lo e jogá-lo no meio da sala. Em seguida, todos levantam e cada um pega um papel com uma pergunta para responder.

2.”Eu já tentei usar movimento, mas…”

  • O seu tempo. Você pode dar os primeiros 5 minutos de aula para os alunos fazerem o que quiserem. O que não pode faltar? Eles têm que se movimentar!
  • Ache-me se for capaz. Faça cada aluno pegar um pedaço de papel. Cada um tem uma definição ou termo de vocabulário. Depois, devem andar pela classe para encontrar a coincidência (também funciona com poemas, resumos de livros, datas, problemas matemáticos, etc.).
  • Galeria de andar (Gallery walk). Primeiro, coloque quatro pedaços de papel nos quatro cantos da sala com os conteúdos curriculares a serem trabalhados (desafio, pergunta, etc.). Cada canto será uma estação ou parada. É possível utilizar imagens, documentos, problemas ou citações. Em segundo lugar,os alunos devem formar grupos de 3 a 5 pessoas. Em terceiro lugar, cada grupo deve passar de 3 a 5 minutos em cada estação ou parada. Cada grupo vai ler e discutir as respostas dos grupos anteriores e adicionar seu próprio conteúdo. Em seguida, se dirigem até a próxima estação. Em quarto lugar, o professor monitora a atividade e responde as dúvidas. Por último, conversam com toda a classe sobre as principais conclusões.

3. “Sempre trabalho com movimento na aula e preciso de algumas ideias novas…”

  • Ação! Faça os estudantes representarem conceitos difíceis ou complexos em grupos.
  • Desafio do manequim! (Mannequin challenge). Crie quadros para demonstrar compreensão profunda de conceitos complexos ou perguntas sobre a literatura.
  • Lance perguntas! Passe uma bola em vez de levantar a mão para responder as perguntas.
  • Oficinas! Configure a sala em várias “estações”, nas quais os alunos devem se levantar e andar pela classe.

Essas são algumas estratégias de movimento que percebi que funcionam bem em aulas de ensino fundamental I. Um dos melhores aspectos dessa profissão é a troca de ideias e atividades. Por isso, se você tiver alguma estratégia para incentivar o movimento em classe, conte nos comentários a seguir.


Shelly Blancq foi professora de ciências do primeiro ciclo do ensino fundamental II, no Colégio Williston Central. É graduada em Teatro musical pela Universidade de Memphis e tem mestrado em Educação pela Universidade de Vermont.

Este texto sobre o uso do movimento na aula foi elaborado originalmente para o blog The Tarrant Institute for Innovative Education, sob o título Moving in the middle. Getting up and shaking it off works for middle grades students.