Em pauta: 5 projetos de educação integral inovadores
Uma parceria Porvir | EDUforics
Por Marina Lopes
Construir um projeto de educação integral que contemple práticas contextualizadas e inovadoras é um desafio para redes e escolas de todo o país. Como subverter o currículo para garantir que o desenvolvimento dos estudantes nas suas dimensões intelectual, física, emocional, social e cultural seja o centro da proposta formativa? Para debater e aprofundar essa questão, a quinta edição do SIEI (Seminário Internacional de Educação Integral) reuniu especialistas e apresentou projetos de educação integral em diferentes contextos educacionais.
Durante o evento, realizado nos dias 24 e 25 de setembro, no SESC Vila Mariana, em São Paulo (SP), cinco educadores foram convidados a compartilhar experiências de educação integral desenvolvidas em diferentes realidades e etapas da educação básica. O encontro foi promovido pela Fundação SM em parceria com o Canal Futura, CENPEC, Centro de Referências em Educação Integral, CIEDS, Instituto Alana, Instituto Rodrigo Mendes, Instituto Tomie Ohtake, Sesc e SM Educação.
Conheça as iniciativas:
1. EMEF Professora Eulália Falqueto Gusmann – ES
Considerada a primeira escola em tempo integral do município da Serra (ES), a instituição tem apostado em projetos que aproximam diferentes disciplinas e profissionais para promover o desenvolvimento integral dos estudantes. Para trabalhar alimentação saudável, por exemplo, a EMEF Professora Eulália Falqueto Gusmann incentiva o diálogo entre a equipe de cultivo da horta, os professores, nutricionistas e responsáveis pela merenda.
Na escola, o território funciona como um extensão da sala de aula. A sorveteria do bairro ou o correio também se transformam em um espaço para aprender. “Nesses movimentos dos territórios, temos a possibilidade de entender que é no movimento com o corpo, com a música, com a dança e com os indivíduos que as crianças têm o desejo e a vontade de voltar no outro dia. Afinal de contas, estamos falando de uma jornada de nove horas”, afirma Roger Vital de França Andrade, assessor pedagógico da equipe de Educação em Tempo Integral do município da Serra.
2. Escola SERTA – PE
Fundada a partir da mobilização de agricultores, técnicos e educadores, o SERTA (Serviço de Tecnologia Alternativa) surgiu com a proposta de promover o desenvolvimento de comunidades rurais e fortalecer o campo como um espaço de vida, saúde, bem-estar e educação. A instituição oferece Ensino Técnico de Formação Profissional em Agroecologia para 1.250 estudantes de Goitá e Ibimirim (PE).
Organizada em um regime de alternância, durante 18 meses os estudantes ficam uma semana nas dependências da unidade de ensino e três semanas com a família e a comunidade para desenvolver pesquisas, mobilização e tecnologias nas propriedades onde residem. A escola reúne estudantes com diferentes níveis de instrução, vindos de várias regiões de Pernambuco e de outros estados. Entre eles, há representantes quilombolas, indígenas e de movimentos sociais. “A gente convive no espaço escolar com uma diversidade muito grande. No diálogo entre o diferente, a gente tem conseguido fazer muita coisa”, compartilha Karla Fornari de Souza, educadora Popular e estudante do curso técnico em Agroecologia do Serta.
3. Escola Estadual Indígena Guarani Gwyra Pepo – SP
Localizada na aldeia Tenode Porã, no extremo sul da cidade de São Paulo (SP), a escola trabalha o respeito e o diálogo entre estudantes, professores e lideranças da comunidade. “Quando a gente fala de educação integral na escola, a gente já faz isso dentro da aldeia”, destaca o professor Valcenir Karai.
Na escola, os estudantes aprendem a encarar o erro como parte do processo educativo e têm liberdade de experimentar. O educador indígena ainda destaca que ensinar a partir de exemplos de conduta é parte fundamental do trabalho para que os estudantes enxerguem os professores como uma referência. “O trabalho do professor é um dos mais valorizados dentro da aldeia”, menciona.
4. EMEF José Inocêncio Monteiro – SP
De um cenário onde a escola colecionava fracassos, com um alto índice de analfabetismo, a EMEF José Inocêncio Monteiro, em Tremembé (SP), passou por uma verdadeira reforma de infraestrutura, currículo e mentalidade. “Nós mudamos toda a matriz curricular. De uma forma lúdica e gostosa, dizemos que é tudo junto e misturado”, conta a coordenadora pedagógica Cássia Dias. Ao invés de concentrar aulas de disciplinas curriculares em um único período e oferecer atividades diversificadas no contraturno, a escola optou por uma distribuição alternada da grade durante todo o dia.
Entre as atividades de destaque que são desenvolvidas pela escola, está o projeto de xadrez. “Dos dez melhores enxadristas do Brasil, quatro saíram da nossa escola”, cita a coordenadora com orgulho. A interdisciplinaridade também é uma estratégia para articular conhecimentos e mobilizar a comunidade escolar, como é o caso do projeto sobre rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, que corta Tremembé e leva a Campos do Jordão. Os estudantes fizeram pesquisas, tiveram contato com agentes de trânsito e estão organizando uma petição para solicitar a construção de passarelas para garantir a travessia segura de pedestres e evitar acidentes no local.
5. SME São Paulo e CEFAI – SP
Na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, o CEFAI (Centro de Formação e Acompanhamento) trabalha com acompanhamento de estudantes com deficiência, autismo, altas habilidade e superdotação. “Quando pensamos na educação integral na perspectiva de uma educação inclusiva, temos que problematizar sempre a visão de currículo, a oferta do AEE (Atendimento Educacional Especializado), a prática docente, a gestão democrática, a participação da família e os diálogos com as redes de proteção social, serviços e equipamentos do entorno. Esse conjunto todo que reverte em aprendizagem”, Keit Cristina Lira, professora na rede e coordenadora do CEFAI da Diretoria Regional de Educação de Itaquera.
Com uma equipe multidisciplinar, composta por assistentes sociais, fonoaudiólogos e psicopedagogos, o CEFAI visita unidades escolares para fortalecer o trabalho que é desenvolvido no AEE, que tem a fundação de “identificar e eliminar barreiras de acesso ao currículo”, como cita Keit. Na EMEF Brigadeiro Haroldo Veloso, por exemplo, o professor responsável pelo atendimento educacional especializado identificou a barreira de cada estudante para pensar a robótica como uma estratégica no AEE.